Vou usar o espaço de hoje para te convidar a fazermos uma reflexão sobre a importância da família e o triste e cruel fato ocorrido com a morte e desaparecimento do menino Bernardo Uglione Boldrini. E quero fazer esta reflexão, justamente pela família da minha esposa, com quem tenho duas filhas, sendo uma “filha do coração”, ser natural de Três Passos, uma cidade linda e extremamente acolhedora. Pode até parecer uma ficção, mas é lá que uma enfermeira (madrasta), um médico (o pai) e uma assistente social, três profissionais que lidam com a vida e à saúde das pessoas são os suspeitos pela morte do garoto de 11 anos.
Segundo revela a imprensa, a Polícia Civil investiga se o menino Bernardo teria sido dopado com analgésico antes da injeção que o matou. Ou pior ainda, hoje se discute se o menino foi ou não enterrado vivo. Esta confissão foi feita pela assistente social Edelvânia Wirganovicz, que participou do crime. O pai de Bernardo, Leandro Boldrini, de 38 anos, é médico cirurgião e dono de uma clínica na cidade de Três Passos (RS). Sua mulher, Graciele, é enfermeira e sócia na clínica. Bernardo chegou a procurar o Fórum de Três Passos para reclamar de insultos recebidos da madrasta e da falta de interesse do pai. Embora não tenha havido relato de violência física, o Conselho Tutelar recebeu a primeira denúncia em setembro de 2013. O Conselho foi ao colégio verificar a denúncia, em reunião com a equipe diretiva, psicóloga, assistente social e a criança. Depois juntamente com a assistente social do município, foram ao consultório do médico pai da criança para averiguar a denúncia e realizar alguns encaminhamentos. Após, o Conselho retornou à escola para saber da situação da criança.
Em outubro, o Conselho Tutelar foi à casa da vizinha onde Bernardo ficou por quase 30 dias. Em outubro retomou contato com o pai e, depois da intervenção, recebeu relatório do colégio, no qual consta melhora após a intervenção do Conselho Tutelar, mas que sentia falta de amor do pai. No final de novembro, o Conselho Tutelar denuncia ao Ministério Público as infrações administrativas e penais cometida pelo pai da criança, Dr. Leandro Boldrini, e em dezembro, reitera a denúncia ao Ministério Público, onde informa que o pai não estava cumprindo as orientações. Depois de 15 atendimentos realizados pelo Conselho Tutelar, em 11 de fevereiro, Boldrini pediu uma chance para melhorar a relação com o filho. Em 13 de maio, pai e filho seriam novamente ouvidos.
O educador Antônio Carlos Gomes da Costa, um dos idealizadores do Estatuto da Criança e do Adolescente, afirma que a partir do momento em que as crianças ficam soltas na comunidade, há uma perda de referência em relação aos valores considerados importantes para o desenvolvimento de uma base sólida. Então, não basta apenas estar presente, é preciso qualidade dessa convivência, que deve ser marcada por um forte componente de presença educativa. No Brasil, a ausência dos pais na formação dos filhos é algo recorrente. Quando a família não dispõe de tempo ou condições para dar a base afetiva e educadora à criança, além de iniciar a vida escolar de forma bastante fragilizada, ela pode desenvolver carências que vão além do âmbito escolar. A qualidade das relações vai além do tempo com que os pais e os filhos passam juntos. Podemos nos fazer presentes por meio de telefonemas no meio da tarde, de bilhetes deixados em lugares estratégicos e de tarefas colaborativas para a dinâmica familiar. A escola é considerada a extensão da família e, trabalhando juntas, as duas instituições desempenham o papel de educadores. Muitas vezes, não é simplesmente a educação apenas que leva a criança a ter solidez e confiança naquilo que faz. Amor e atenção são fundamentais. Precisamos avançar.
É fácil falar depois de um caso ocorrido, mas não posso deixar de manifestar a minha opinião depois de mais este caso cruel envolvendo criança. Não podemos mais, como sociedade ser coniventes com casos como este. O direito à vida é uma garantia constitucional. E é nossa obrigação – obrigação de todos nós – preservarmos a vida. Não somente a nossa e de nossos familiares. Mas devemos sim intervir quando, como em casos como este, a família se omite ou deixa indícios de que por um grande período de tempo não possui condições de resolver um problema que se arrasta, sem solução. Mas é preciso que este caso, infelizmente, sirva para modificarmos as nossas convicções, nossas atenções, nossos conceitos, e agirmos sim, antes que novos casos Bernardo ocorram. Afirmo tudo isto pois agradeço todos os dias aos meus pais Albino e Tereza que me ensinaram a ser pai da Rafaela e da Victória.
(artigo publicado no jornal A Razão do dia 24 de abril de 2104)
*Deputado Estadual
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