13/02/2013

De certa forma também sou culpado


       Santa Maria entrou para a história com as cenas de horror vivenciadas e assistidas por todo o mundo a partir da madrugada de sábado (27), quando ocorreu um incêndio na boate Kiss. A sociedade quer saber quem são os culpados. De certa forma, eu posso dizer que sou um pouco culpado. A maioria de nós somos. Eu porque já fui em muitas festas e shows com a minha esposa ou até mesmo levar a minha filha e suas amigas e nunca pensei de forma objetiva na minha segurança nem na de ninguém que estava lá. Entrei em lugares que pareciam formigueiro. Mas estava me divertindo. O som, a dança, a alegria de todos eram fascinantes. Não lembro de ter olhado nos locais por onde passei se havia saídas de emergência, janelas, ventilação, extintores de incêndio. Como todos, eu só queria entrar e lá permanecer o maior tempo possível. E se alguém reclamasse de algo durante a festa talvez me juntasse ao coro dos felizes festeiros que dizem “vamos nos divertir”. É bom lembrar que sempre é mais fácil protestar contra quem fiscaliza do que contra quem coloca vidas em risco sem a gente se dar conta.
Presenciei várias e diferentes situações em que pessoas tentavam descumprir alguma regra com o argumento de que “sempre cabe mais um”, como se tivessem a certeza de que, ainda com a lotação máxima do local, nada poderia acontecer. Sim, foi uma fatalidade. Diante da quantidade de festas que acontecem por esse Brasil em locais inadequados todos os dias é até de estranhar não ter acontecido mais vezes. Só que essa fatalidade tem responsáveis. Afinal, leis existem. E existem para ser cumpridas. E valem para todos. Mas também, estas leis valem para nós, pais, irmãos, filhos, cidadãos comuns que aceitamos tudo de forma passiva, sem questionar, sem propor, sem perguntar, sem cobrar e, muitas vezes, sem se importar. Por si só, o peso na consciência de quem poderia ter evitado tudo isso já é a pior das condenações.
Os desdobramentos da tragédia em Santa Maria já vem movimentando o País, quando prefeitos, policiais, técnicos do trabalho, entre outros, já anunciaram linha dura contra as boates e prédios de médio e grande porte que abrigam um número considerável de pessoas. Mas que isso não seja apenas uma resposta ao momento. Que este triste episódio seja lembrado sempre e que seja a linha divisória definitiva nos conceitos de segurança, prevenção e fiscalização de casas noturnas e também do fim da omissão de órgãos e entes públicos e cidadãos fiscalizadores.
A tragédia que ocorreu em Santa Maria deve muito mais do que nos fazer pensar e repensar o que nós nesse mundo somos e fazemos, mas pensar também o que podemos fazer e ser, para não invadirmos os limites do outro nem sermos agentes provocadores ou agentes omissos, diante de situações de extrema violência e trauma como esta que ainda vivenciamos. Devemos agir, ainda que passando por chatos, por metidos ou por murrinhas. Não podemos mais nos omitir diante da preservação de vidas. A cultura da irresponsabilidade é difusa, genérica, disseminada e impregnada em nossa sociedade, que apenas se dá conta da sua responsabilidade depois de fatos como este que ceifou mais de 200 vidas e dilacerou o coração do Rio Grande.

Jornal A Razão- 07 de Fevereiro de 2013.

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